Um dia eu olhei para a aquela velha máquina Remington, enorme, gorda, do modelo que equipou tantas redações importantes e pensei com os meus botões: mas essa máquina é do Zuim! Quando o Zuim veio trabalhar na minha agência, que naquela época se chamava Contacto, ele exigiu que eu comprasse aquele trambolho pré-histórico com o qual conquistou prêmios, deixou enormes recordações de sensibilidade e profissionalismo, e, principalmente, deixou um publicitário melhor, porque me ensinou muito de publicidade, da boa publicidade. Mandei embrulhar a máquina em um enorme papel celofane , amarrado com uma também enorme fita vermelha e enviei para ele, na Sabiá, acompanhada de um bilhete que dizia que ninguém mais era digno de tocar naquela máquina, além dele. Não tive a menor resposta. Tempos depois, talvez anos, eu estava em minha sala, absorto em um texto qualquer, quando senti uma inesperada presença na minha frente. Levantei a cabeça e me deparei com um sujeito carrancudo, de dedo em riste e pronto pra dizer alguma coisa, que parecia não ser nada de bom. Fiquei lívido de susto. E o Zuim falou: _ Eu só vim aqui pra dizer que você é meu amigo e que eu gosto muito de você. Antes de eu esboçar qualquer resposta, virou as costas e foi embora. Esse era o Zuim. E hoje eu chorei porque estou com muita saudade dele. E com um imenso remorso em ter sido tão relapso com esse grande companheiro, por não tê-lo procurado nos últimos anos. Agora, não vou vê-lo nunca mais. E a saudade está doendo em mim.
Texto publicado no dia 11 de Julho de 2011.