Ontem, sábado, fim de tarde, estava tomando cerveja gelada com amigos em uma mesa de calçada de um bar da Av. Brasil. De repente, aparece uma jovem mulher, muito bonita, vestida de maneira simples, mas de notório bom gosto, maquiagem suave, mas evidente, que depois de dar um cordial boa noite aos da mesa colocou sobre ela um papel branco repleto de amendoins torradinhos. Logo se afastou, respeitando a privacidade da degustação. Ataquei os torradinhos com vontade. Pronto, o suspect tinha virado prospect qualificado, pois a vendedora já sabia de mim o que precisava: eu estava bebendo cerveja, portanto, tinha a boca amigável para o consumo de salgados; já havia provado e aprovado o produto; era um consumidor exibicionista, pela companhia dos amigos. Então, ela se aproximou novamente, com vários cones de amendoim nas mãos e com um sorriso de Silvio Santos oferecendo carnê do Baú da Felicidade, e disse: “um por dois reais. Três por cinco”. Eu, que não iria me entregar sem luta, respondi: “muito obrigado. Estavam deliciosos, mas não vou comprar hoje, porque só tenho cartão de crédito”. Foi aí que ela me deu uma resposta capaz de fazer o Prof. Phillip Kotler, o mago do Marketing, sentar-se num banquinho: “não tem problema, senhor, eu aceito cartão de crédito”. Mas, como assim? Uma vendedora ambulante de amendoins aceitando cartão de crédito? Até hoje, existem lojas em BH que não aceitam. Me senti na final do Big Brother com o Brasil inteiro olhando pra mim. Desarmado, pedi seis cones e entreguei meu cartão. Enquanto ela, com ar de executiva que bateu a meta de vendas, procedia o recebimento, olhei uma vez mais para aquela mulher bonita e tão orgulhosa do que se propõe fazer e pensei: ela vende amendoins com uma expertise comercial maior que a de muitos empresários estabelecidos oferecendo produtos mais nobres. Logo de saída, a gente percebe os quatro “p” do Marketing – produto, preço, praça e promoção – usados com uma sabedoria inata. Produto correto, numa embalagem conveniente, oferecido no momento certo ao consumidor, no lugar ideal, com degustação, preço atraente e entrega imediata. Outros vendedores de amendoins fazem mais ou menos a mesma coisa. Mas ela, além da inédita facilidade de pagamento com cartão de crédito, confere ao negócio uma respeitabilidade muito interessante. Tem uma ótima apresentação pessoal, passa uma forte percepção de limpeza e higiene no manuseio dos amendoins e conserva um delicado, mas firme, distanciamento do cliente – o termo “cliente” se aplica pela elegância que ela confere à venda, sem exageros – mantendo a desejável liturgia do relacionamento entre quem vende e quem compra. Perfeito! Se o amendoim torrado é uma comoditie, ela agrega a conveniência, a confiabilidade e a facilidade de pagamento. Ela é a marca. Tudo muito simples e eficiente. Aí está a beleza da coisa. Aprendamos com a vendedora de amendoins.